domingo, 10 de julho de 2011

Teatro em Sintra - "Três em Lua de Mel"

Estreou ontem à noite na Sociedade União Sintrense a quarta peça encenada pelo grupo de teatro do Centro de Cultura e Desporto Sintrense "Os Cintrões", grupo formado por trabalhadores da Câmara Municipal de Sintra e de outras entidades municipais.

Desta vez trata-se de uma comédia dos anos 50, escrita por Ribeirinho e Henrique Santana. A encenação foi, como nas peças anteriores, do grande sintrense Gil Matias.


Nestes tempos de extremo egoísmo e conformismo, esta iniciativa, sobretudo porque vinda de um "universo profissional" (onde os factores do "sucesso a qualquer preço" se vêm sobrepondo a um desejável ambiente de trabalho saudável), afigura-se mesmo como uma pedrada no charco.


O programa:


Algumas fotos:
















Ver também a página do grupo "Os Cintrões" no Facebook: http://pt-pt.facebook.com/people/Cintr%C3%B5es-G-Teatro/100001198712385

"Vindo desde Vigo ao Porto..."

Nas últimas semanas veio a lume a intenção da CP encerrar mais uma linha férrea, desta vez a linha do Porto a Vigo.

Mais uma "patacoada" nacional, salva a tempo pelos nuestros hermanos (e amigos) galegos.

Pois, os prejuízos de exploração - que ninguém tem dúvidas que existam mesmo. Mas se calhar devíamos ir um bocadinho mais longe, perceber as razões profundas, e não tão longínquas assim.

A nossa rede de caminhos de ferro está mesmo pelas horas da amargura, isto é só o princípio, o país vai ficar reduzido a algumas poucas centenas de quilómetros de caminho de ferro, a maioria das capitais de distrito vão deixar de ser servidas pela via férrea. Sim, mas não deixaremos de poder viajar (vertiginosamente) até à aldeia mais recôndita, através dos imensos rios de alcatrão que revestem o país desde os anos 80.

Pois, os verdadeiros responsáveis andam aí e têm nome - foram (e são) os arautos do "bom aluno" europeu, os ideólogos do capitalismo popular teatcheriano dos anos 80 - no mínimo um carro para cada cidadão -, os missionários da cultura elitista e novo-riquista do "povo que anda de transportes públicos cheira mal", os patos-bravos do alcatrão (de vários quadrantes políticos).
Pois, atingimos mais umas boa posição na pacovice do "Guiness": país europeu que menos usa transportes públicos para ir para o trabalho; parque automóvel dos mais vastos e recentes; óptima performance no aumento de consumo de combustíveis; ah valentes!



Nos anos 70 viajava-se de comboio, não só para ir para o trabalho, mas também no lazer. A minha primeira grande "viagem a Portugal" foi feita de comboio; existia uma espécie de inter-rail nacional, era o "livrete quilométrico", constituído por 1.800 km de senhas compradas previamente, que eram trocadas por bilhetes nas estações da CP (confesso que não sei se existe ainda alguma coisa semelhante).

Em Setembro de 1973 esses 1.800 km permitiram-me ir a Aveiro, Porto, Viana do Castelo, Braga, Régua, Lamego, Viseu, Guarda, Covilhã, Castelo Branco e, depois de 2 ou 3 dias em casa, a Lagos e Portimão; ainda devem ter sobrado uns quilómetros.

Na linha de Vigo ao Porto, viajámos a primeira vez em Agosto de 1979, com a mochila às costas a partir de Viana do Castelo (onde tinhamos assistido às Festas da Sra. da Agonia) e com destino às Ilhas Ceas. Essa viagem foi muito bem acompanhada pelo Sérgio Godinho, que em 1972 cantava assim:



"Vindo desde Vigo ao Porto/Sem mala nem passaporte/

O comboio era tão velho/Que o fumo cheirava a morte (...)"








A notícia do "Público (http://www.publico.pt/Local/comboios-portovigo-vao-manterse_1501974):


A CP vai manter o serviço internacional Porto-Vigo, cuja supressão estava anunciada para este domingo, depois de a sua congénere Renfe ter aceitado pagar os custos da circulação das automotoras portuguesas no troço espanhol.
A supressão do serviço internacional estava anunciada para este domingo.

A transportadora portuguesa voltou, assim, atrás na decisão de suprimir as ligações directas entre o Porto e Vigo, que davam um prejuízo anual de 232 mil euros, mantendo apenas o serviço regional entre Campanhã e Valença.

Perante o movimento de protesto que se gerou na opinião pública do Norte de Portugal e da Galiza, com inúmeros autarcas de ambos os lados da fronteira a protestarem contra esta decisão, a CP admitia ontem prolongar o serviço até à fronteira espanhola de Tui, desafiando a Renfe a continuar o serviço até Vigo com os seus próprios comboios, ou a pagar à operadora portuguesa para ser esta a fazê-lo com o seu material circulante.

Hoje de manhã houve acordo e as duas ligações directas de ida e volta entre o Porto e Vigo vão manter-se, com automotoras portuguesas, aceitando a Renfe pagar a totalidade dos custos de exploração entre a fronteira e Vigo.

A inauguração do serviço internacional Porto-Vigo data de 1913, tendo chegado a haver comboios directos do Porto para Santiago de Compostela e a Corunha.

Jorge Lima Barreto

Morreu ontem, dia 09.Jul.2011, o músico e musicólogo Jorge Lima Barreto, figura grande da cultura portuguesa. A notícia do "Público" - http://www.publico.pt/Cultura/morreu-o-musico-jorge-lima-barreto_1502125:



Músico, musicólogo e um dos criadores dos Telectu
Morreu o músico Jorge Lima Barreto
Por Vítor Belanciano



O músico Jorge Lima Barreto, de 61 anos, morreu hoje, vítima de uma pneumonia. O músico e musicólogo, criador do grupo Telectu com Vítor Rua, estava internado há algumas semanas nos cuidados intensivos de um hospital de Lisboa.



Foto da Fonoteca de Lisboa



O corpo de Jorge Lima Barreto estará em câmara ardente na Igreja de Santa Joana Princesa, em Lisboa, a partir das 17h de domingo. Daí seguirá, na 2ª feira, às 16h, para o crematório dos Olivais, em Lisboa.

Ligado às músicas mais exploratórias, experimentais e improvisadas, a solo ou em formações como os Telectu e AnarBand, Jorge Lima Barreto, nascido em 1949, licenciou-se em História de Arte (1973) e doutorou-se em Musicologia e Teoria da Comunicação Social na Universidade Nova de Lisboa (1995), tendo desenvolvido em simultâneo à actividade de músico, produção como documentador e musicólogo, tendo editado quase uma vintena de títulos dedicados a diversas músicas, relacionando-as historicamente, como “Revolução jazz” (1972), “Jazz-Off” (1973), “Rock Trip” (1974), “Rock & Droga” (1982), “Música Minimal Repetitiva” (1990), “JazzArte” (1994), “Música e Mass Media” (1996), “Musa Lusa” (1997) ou “B-Boy” (1998).

Mas foi com os Telectu, o duo de música experimental formado em 1982 com Vítor Rua (vindo da formação original dos GNR), que viria a conhecer maior projecção, tendo a dupla actuado um pouco por todo o mundo. Vindo da tradição do jazz, Jorge Lima Barreto incorporou nos Telectu uma grande variedade de elementos musicais, que iam do jazz mais livre à electrónica, passando pelo minimalismo ou pela música concreta. Ao longo de trinta anos de carreira, editaram uma volumosa discografia de mais de vinte títulos – de estúdio ou registados ao vivo – tendo colaborado com inúmeros músicos de excepção, da música improvisada ou experimental, como Elliot Sharp, Chris Cutler, Sunny Murray, Jac Berrocal ou Carlos Zíngaro. Em simultâneo, compuseram também música para teatro, vídeo-arte ou performances multimédia.

Projecto singular durante muitos anos na paisagem musical portuguesa, os Telectu, pela sua natureza, sempre em conjugação com outras áreas artísticas, e pela forma como recorriam à ironia, criando situações surpreendentes, nem sempre se sentiram compreendidos no contexto português, onde as linguagens mais exploratórias são quase sempre relegadas para plano secundário.

Personalidade inquieta, Jorge Lima Barreto sempre orientou a sua actividade pela procura de novas soluções interpretativas e composicionais, ao mesmo tempo que procurou estar actualizado com os desenvolvimentos tecnológicos no campo da música.



Capa e excertos de livro de Jorge Lima Barreto (BARRETO, Jorge Lima - Grande Música Negra. Porto: edições Rés limitada, 1975):