(as pequenas guerras)
15.nov.1971 – É fundado o Espeleo Clube de Sintra (ECS), por Alexandre
Morgado, Manuel Mourato Vermelho e Francisco Páscoa de Oliveira
03.abr.1972 – Entrega dos estatutos do ECS no Ministério da Educação
Nacional, pela Comissão Organizadora
23.set.1972 – É fundado o
Centro Especial de Exploração Subterrânea (CEES), por Francisco Páscoa de
Oliveira, Joaquim Pitorro e Mário Coruche
19.out.1972 – Constituídos os
primeiros Corpos Gerentes do CEES
20.dez.1972 – O CEES passa a
funcionar com uma Comissão Organizadora
Março.1973 – O CEES passa a
reunir quinzenalmente no Café Piriquita (Sintra)
04.abr.1973 – 1.ª Assembleia Geral, extraordinária, do ECS, para
eleição dos Corpos Gerentes (não foram, posteriormente, sancionados pelo
Ministério da Educação Nacional, por alguns membros serem menores)
11.abr.1973 – Constituição notarial do ECS
Junho.1973 – O ECS aluga sede na Rua José Bento da Costa, lote 35 cv
esq, Portela de Sintra
12.jun.1973 – É publicada a aprovação dos estatutos do ECS, em Diário
do Governo III Série
07.abr.1974 – É apresentada pela Comissão Instaladora do ECS uma nova
lista de Corpos Gerentes para homologação pelo Ministério da Educação Nacional
11.maio.1974 – Assembleia Geral, extraordinária, para eleição de novos
Corpos Gerentes, convocada pela Comissão Organizadora do ECS
22.mai.1974 – Reunião da
Comissão Organizadora do CEES, e reinício das atividades deste clube
19.set.1974 – Reunião de sócios do ECS decidindo-se suspender o
tesoureiro do clube
26.set.1974 – É fundado o
Núcleo de Espeleologia de Sintra (NES), que passou depois a designar-se por
Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES)
Dezembro.1974 – O ECS cessa o arrendamento da sede, na Portela de
Sintra
1975 – 1976 – A AES efetua
cerca de 68 atividades de exploração
Janeiro.1977 – Comissão
organizadora da AES reunia semanalmente na residência do Dr. Jorge Branco, na
Portela de Sintra
17.fev.1977 – Constituição
notarial da AES por Jorge Branco, Valdemar Tomás e Mário Coruche (Diário da
República III Série, de 26.mai.1977); a AES tinha sede na Av. Movimento das
Forças Armadas, 48 – 2.º dto, Sintra
16.abr.1977 – Assembleia Geral extraordinária do ECS, sendo aprovada
por unanimidade a extinção do clube e sendo todos os seus bens e fundos oferecidos
à AES
15.jun.1977 – Legalização da
AES no Governo Civil de Lisboa
02.jul.1977 – Eleição dos
primeiros Corpos Gerentes da AES
1.
O
nascimento
O Espeleo
Clube de Sintra (ECS) foi obra de Alexandre Morgado, jornalista ligado aos
meios do Estado Novo, e que o fundou a 15.nov.1971.
Alguns sócios
desavindos resolveram fundar um outro clube, o Centro Especial de Exploração
Subterrânea (CEES) a 23.set.1972. Mas o arrendamento de sede pelo ECS, em junho
de 1973, e a aprovação dos seus estatutos pelas autoridades do regime trouxeram
de novos esses sócios ao ECS.
2. O 25 de abril
A 07.abr.1974
era por Alexandre Morgado apresentada uma lista de Corpos Gerentes para ser
homologada pelas autoridades.
Mas a 25 de
abril o regime autoritário caiu e a influência de Alexandre Morgado terminou.
A 27 de abril
ainda estava na sede a discutir o rasgar da sua foto por Pedro*, que Manuel* presenciara, após o que João* e Manuel* propõem a
expulsão de sócio de Pedro*. Este acaba por não sofrer outra sanção
que não seja ser obrigado a mandar fazer nova amplicópia 30x40 igual à que
rasgara (na sala de reuniões estava pendurado quadro com a fotografia do
fundador…). Decidiu-se ainda, naquele sábado, marcar uma Assembleia Geral
extraordinária para 11 de maio, quinze dias depois.
A 2 de maio,
Alexandre Morgado, pela Comissão Organizadora do ECS, convoca realmente uma AG
extraordinária para 11 de maio, pelas 21h30, com a eleição de novos Corpos
Gerentes na Ordem de Trabalhos.
As coisas
precipitam-se, no entanto. De 6 para 7 de maio, a altas horas da noite,
Alexandre Morgado e João* retiram da sede os pertences do primeiro
enquanto Luís* fica “de guarda” à porta do prédio. A 7 de maio é
distribuída aos sócios presentes na sede uma convocatória anónima marcando para
11 de maio, pelas 15h00, uma Reunião Geral de Sócios que incluía na Ordem de
Trabalhos a apreciação de proposta para demissão imediata do Presidente da
Comissão Instaladora e eleição de uma Comissão Administrativa transitória.
A 11 de maio,
durante a tarde, Alexandre Morgado faz sucessivos ofícios ao Director-Geral dos
Assuntos Culturais (que antes autorizava a existência de associações
culturais), ao senhorio da sede, ao fiador do arrendamento e ao Presidente da
Câmara Municipal de Sintra, avisando que deixaria nessa noite de ser
responsável pelo clube. Às 18 horas termina um Relatório das Actividades do ECS desde a sua fundação. Nessa noite,
com 27 sócios presentes, são votados o Presidente e Vice-Presidente da
Direcção, os restantes lugares sendo consensuais. Por 14 votos contra 13,
Carlos Galrão é presidente e Francisco Páscoa vice-presidente. Começou aí nova
divisão entre os espeleólogos sintrenses.
A 17 de maio,
Alexandre Morgado demite-se de sócio do ECS e a 22 de maio o CEES reinicia as
suas atividades reanimado por Mário Coruche, tesoureiro do ECS, e que a 19 de
setembro é suspenso deste clube. A 26 de setembro Mário Coruche funda o Núcleo
de Espeleologia de Sintra (NES), que depois passará a Associação dos
Espeleólogos de Sintra (AES), e que irá polarizando as atividades e aderentes
enquanto o ECS definhava. Em dezembro de 1974, sem capacidade sequer de pagar o
arrendamento da sede, o ECS deixa de ter sede arrendada e os seus sócios, progressivamente
integrados nas atividades da AES, acabam por decidir por unanimidade a extinção
do ECS em Assembleia Geral de 16 de abril de 1977.
3.
O
crescimento
A AES
prosperou, inicialmente sob a tutela administrativa de Mário Coruche e uma
direção científica de Jorge Branco. A Associação ainda hoje existe, em 2016.
Desde os anos
setenta do século XX, em que a ditadura que então dominava Portugal confinava
os jovens a associações vigiadas e dirigidas autocraticamente, até aos anos
inicias deste século XXI, esta vertente associativa científica sempre teve
pequena expressão na sociedade sintrense. Por ela passaram, no entanto, alguns
jovens brilhantes e que foram, naturalmente, tomando o seu lugar na sociedade.
Cerca do ano
2000, a AES integrava um viveiro de jovens preparando teses de mestrado,
especialistas em biologia, formadores de escalada em parede na Escola Nacional
de Bombeiros, debruçando-se sobre a vanguarda do conhecimento e técnicas do
momento, tudo isto com sede numa garagem, dividida a meio por uma cortina. No
fundo da garagem, o equipamento, e, à entrada, uma dúzia ou duas de jovens
universitários trocando informações e experiências e planeando trabalhos.
Depois, a AES
conseguiu instalações na Quinta da Regaleira. Um laboratório de investigação
sobre morcegos, online, com partilha
vídeo de uma comunidade de morcegos para todas as entidades científicas,
através da internet, a prestação de serviços científicos de sua especialidade
para todo o país, autarquias e empresas privadas. Esta fase, outros a poderão
descrever melhor!
Bom trabalho,
camaradas!
4.
Algumas
personagens
Das
personagens dos tempos iniciais, poucos testemunhos posteriores tenho.
Alexandre
Morgado dava notícias ameaçadoras de vez em quando. Surgiu ali, apareceu acolá,
telefonou, deixou recado… Sempre sob um manto nebuloso, que era espião, voltara
do estrangeiro… Um encoberto.
Ao contrário,
Jorge Branco era a luz. Morava por cima da sede do ECS, e a esposa batia com o
cabo da vassoura no chão da cozinha, altas horas, para protestar pelo barulho
que fazíamos. Um dia, anos noventa, andava eu a escarafunchar no depósito de
publicações reservadas da Biblioteca Municipal de Estremoz, vi-o calmamente a
ler numa mesa da biblioteca. Tinha comprado um terreno em Estremoz, 2 filhos,
era Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.
O Pedro* era do meu círculo próximo. Aquando do 30 de setembro de 1974, desembarcámos na estação ferroviária do Algueirão, sempre altas horas da noite, as paredes anunciando que tinham apanhado dezenas de capacetes e cacetes à reação. Não resisti a comentar a situação na beira de um dos cartazes. Vieram os donos dos cartazes, correria, no dia seguinte soube que o Abílio e outros MJTs tinham apanhado o Pedro* a caminho de casa. Houve muita lábia, uns sopapos, acabámos por ficar nos ficheiros do PC. O que nos não impediu de lá ir à sede, na tarde do 11 de março de 1975, saber novidades, e, perante alguma falta de direção local, organizarmos a feitura de cartazes contra a reação, o fecho dos supermercados da terra, um fartote; quando os controleiros voltaram de Lisboa, raspámo-nos ordeiramente, como diria agora o Jorge Palma: “com todo o respeito”. O Pedro* licenciou-se em geologia, 3 filhos maravilhosos, às tantas fartou-se da capital e foi para a província. Já neste século XXI, apareceu por aqui, reformado. E depois estava numa aldeia em Trás-os-Montes. E em Essaouira, em Marrocos (“Apareçam cá, porra! Aluguei uma casa que só lhe falta água; tem eletricidade, tem net, tem tudo.”). Um dia, mail para cá, mail para lá, descobri que nas minhas deambulações pelo Alentejo passara a 300 metros dele, em Melides (“Cabrões! Passam aqui na estrada e não dizem nada a um gajo. Custava alguma coisa?”). Mais conversa, que vida de cigano era aquela, acaba por confessar que na aldeia onde vivera acabara por dar uma patada ao Presidente da Junta de Freguesia.
— E então?
— Olha, o juiz condenou-me a pagar-lhe 1.200€.
— Caneco. Lá por isso fazemos uma coleta entre a
malta e pagamos ao gajo.
— Nem pensar!
Isso também os meus filhos queriam… O gajo nunca vai ver nem um tostão meu. Era
bom, era!
Carlos Galrão
Mem Martins,
21.jan.2017
Notas:
* - Nomes fictícios.
A oportunidade de elaboração deste texto deve-se ao estimado Dr. Hermínio Santos, que se encontra a ultimar (mais) uma publicação sobre Sintra, onde abordará, entre muitos outros aspetos, as associações de espeleologia desta vila.
Foi a propósito dessa publicação que o Dr. Hermínio Santos nos contactou, o que impulsionou a recolha e sistematização pelo Carlos Galrão deste texto que agora se publica.
Vítor Reis
Algueirão, 31.jan2017.
Gruta da Assafora, jan.1974
Próx. Gruta de Colaride, set.1974
Gruta de Alvidrar, jul.1975
(in "Serra de Sintra Passeios Pedestres". Carlos Galrão e Vítor Reis. Edit. Abril: 1981)
Excelente artigo.
ResponderEliminarObrigado Galrão e Vitor pela resenha Histórica do berço da espeleologia Sintrense. Bons tempos.
ResponderEliminarGostei de ler. Não sabia destes antecedentes. Só vos conheci no início dos anos 80. Tempos radicais, para mim, desportivamente falando.
ResponderEliminar