domingo, 28 de junho de 2015

O templo ao Sol e à Lua, Praia Pequena da Vigia

No passado dia 21 de junho o solstício de verão foi assinalado em Sintra com uma visita e conferência do prof. Cardim Ribeiro no romano (depois árabe, depois manuelino) templo ao Sol e à Lua descoberto em 2007 na Vigia, Praia Pequena, um sítio mágico.
 
Na sessão foi distribuída uma interessante documentação, que apresentamos a seguir:

 
No site Portugal Romano encontramos um excelente rtiugo sobre este santuário - 

Santuário Romano ao “SOLI ET LUNAE” (Praia das Maçãs, Colares)


Monumental  Santuário Romano
do Sol e da Lua
Sítio Arqueológico do Alto da Vigia 

Introdução
Remontam a 1505 as primeiras referências ao santuário, que é visitado ao longo do século XVI e seguintes. Progressivamente encoberto pelas dunas e perdidas, dele apenas restava o seu registo escrito e um desenho da autoria de Francisco d’Ollanda.
Em 2008 durante uma intervenção arqueológica levada a cabo pela equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas foi possível identificar finalmente a sua localização.
O recinto circular do santuário (que talvez se tratasse de um templo, um simples témenos, ou espaço sagrado ao ar livre) erguia-se sobre uma elevação rochosa que avançava pelo mar, até aos40 metros de altitude, e que assim constituía um pequeno promontório.
O «LUNAE MONS, PROMONTORIUM» – Foto de Raul Losada
Deste importante santuário romano da região de Colares, consagrado a  SOLI ET LUNAE, provém importantes inscrições. Ptolomeu situa –o a noroeste de Olisipo o «LUNAE MONS, PROMONTORIUM»
Historiografia do sítio arqueológico
As primeiras informações que nos falam da existência de um santuário romano junto à foz do Rio das Maças, no lugar denominado Alto da Vigia,  são da autoria de Valentim Fernandes, em 1505; e de Francisco d’Ollanda, por volta de 1541. Este autor inclui na sua obra “Da Fábrica que falece à cidade de Lisboa” o desenho das estruturas que então terá conseguido observar e que pertenceriam ao santuário romano.
Desenho das estruturas da autoria de Francisco d’Ollanda
A identificação daquelas ruínas no século XVI corresponde à primeira descoberta arqueológica feita em Portugal. A importância do local foi largamente reconhecida na época, passando a ser ponto de visita obrigatória para os eruditos, portugueses e estrangeiros, durante o Renascimento.
Entre os ilustres visitantes que acorreram ao local, destaca-se a presença de Francisco d’Ollanda e de André de Resende, mas também de elementos da família Real, nomeadamente do Rei D. Manuel I e, mais tarde, do Infante D. Luís, irmão de D. João III.
Tais descrições indicam que o sítio terá permanecido visitável durante quase todo o século XVI, altura a partir da qual as estruturas terão, a pouco e pouco, deixado de estar visíveis, contribuindo desta forma para uma certa confusão relativamente à sua localização precisa.
Apesar de tudo, a memória de um santuário romano no litoral sintrense permaneceu.
Os vários estudos e trabalhos científicos recentemente desenvolvidos acabariam por apontar para um pequeno outeiro sobranceiro à Praia das Maçãs, onde ainda hoje se conservam os micro-topónimos Alto da Vigia e Alconchel.
Localização do Santuário do Sol e da Lua em Imagem Google Earth
Foi  precisamente nesse pequeno promontório, na margem esquerda daquela Ribeira, que a equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas iniciou uma intervenção em 2008, junto das estruturas de uma torre de facho de época Moderna que ainda se encontravam parcialmente visíveis.
Intervenção junto das estruturas com inscrição in situ reaproveitada no Ribat, foto do Museu arqueológico de São Miguel de Odrinhas
A intervenção arqueológica levada a cabo pela equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas permitiu confirmar a existência naquela zona de um santuário romano monumental, bem como a caracterização dos alicerces parcialmente visíveis como sendo pertencentes a uma torre de facho dos inícios do século XVI.
Intervenção junto das estruturas com inscrição in situ reaproveitada no Ribat, foto do Museu arqueológico de São Miguel de Odrinhas
Nas escavações foi recuperada uma nova inscrição que atesta a importância do local, dedicada ao Sol e ao Oceano por um Procurador dos Augustos e sua família. Para além daquela ara e de uma inscrição funerária da época de Augusto – ou seja, anterior ao próprio santuário – foram recolhidos outros elementos arquitectónicos romanos com alguma monumentalidade, nomeadamente uma imposta moldurada, fragmentos de coluna, de ara e grandes blocos de construção.
O Santuario Romano do Sol e da Lua
A importância do santuário na época romana está reflectida no facto dos votos conhecidos até agora, expressos pela saúde do imperador e eternidade do Império, serem colocados não por devotos particulares, nem sequer pelas elites locais ou provinciais, mas apenas por detentores de altos cargos imperiais, nomeadamente governadores da Lusitânia ou legados do Imperador, embora por vezes através do senado de Olisipo, município em cujo território se localizava este santuário.
Sítio Arqueológico do Alto da Vigia – Foto de Raul Losada
O achado é descrito pela primeira vez por Valentim Fernandes, «O Móravio». No seu texto, em duas cartas, são referidas “tres colunas de pedra cortadas em forma de prisma, com uma grande quantidade de letras(…) incisa nos respectivos pedestais.” e relato de uma forte estrutura à qual tais lapides se encontravam presas.
O conteúdo original desses monumentos epigráficos é-nos transmitido por outros autores  e correspondem a três aras consagradas respectivamente a Soli et Lunae, Soli Aeterno Lunae e Soli Aeterno (Cil II 258, Cil II 259,Cardim Ribeiro,1994 p.86-87 e fig.4-5).
Os dedicantes são exclusivamente Legados e procuradores imperiais na província da Lusitânia:
Tigidius (ou Tuldicius) Perenis – Legatus Augusti pro praetore pronvinciae Lusitaniae
Valerius (ou Iunius, ou Iulius) Coelianus – Legatus Augustorum
C. Iulius C. F. Quir. Celsus – Procurator provinciae Lusitaniae
A análise efectuada por Cardim Ribeiro ao conteúdo epigráfico dos monumentos citados permite situar uma datação aproximada.
A Ara de T. Perenis pela atribuição singular de Legatus Augustus, ou seja, legado de um só Augusto,  deverá situar-se no período do Imperador Cómodo (176 d.C. – 192 d.C.) ou nos primeiros tempos de Septímio Severo (180 d.C. – 198 d.C.) antes da proclamação de Caracala como Augustus. A sua atribuição também é possível supô-la posterior a Septímio Severo e Geta e contemporânea ao governo exclusivo de  Caracala (212 d.C. – 217 d.C.)
A ara de Valerius (ou Iunius, ou Iulius) Coelianus é a única onde se declara a razão do voto, invocando explicitamente a  o Sol Eterno e a Lua «em favor da eternidade do Império e da saúde (Salus)»  de Septímio Severo, de Caracala, de Geta e de Julia Domna.
Os elementos textuais da Ara  permitem  situar entre 200 d.C. e 209 d.C. As referências epigráficas  ao titulo Pius conferido e Caracala (200 d.C.) e de Augustus a Geta (209 d.C.) e que não surge ainda neste monumento.
A Ara de  C. Iulius Celsus aponta aparentemente para o termo da época dos Antoninos, talvez mesmo para finais do século II d.C., embora a menção, ainda incerta, à Dacia Superior, iria recuar a sua datação para antes de 158d.C. ano em que a organização bipartida, Dacia Superior e Inferior, se viu substituída por três novas subdivisões, Dacia Apulensis, Porolissensis e Malvensis.
Ara de C. Iulius Celsus dedicada ao Sol e ao Oceano, hoje conservado e exposto no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas.
Os três monumentos votivos apareceram em 1505, entre ruínas então postas a descoberto junto à foz do Rio de Colares, no litoral sintrense (cfr. Apianus/Amantius, 1534, fl. II). As aras propriamente ditas, recolhidas em estabelecimentos religiosos de Sintra e Colares, desapareceram entretanto, o mesmo não aconteceu ao terceiro monumento, foi redescoberto por Félix Alves Pereira (1914, pp. 352-353) em 1907, reutilizado como material de construção na ermida São Miguel de Odrinhas  – tendo sofrido, para o efeito, a mutilação não só do respectivo capeamento mas, também, de grande parte das letras da linha 1. Encontra-se hoje conservado e exposto no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas.
Nas recentes escavações foi encontrada uma nova inscrição que atesta a importância do local, sendo dedicada ao Sol e ao Oceano por um Procurador dos Augustos e sua família.
O Santuário do Sol e da Lua e o Mons Sacer
O locus sacer do Sol e da Lua implementava-se na época romana sobre uma elevação rochosa de cerca de 40 metros sobre o mar. Situado no sopé do mons Sacer (Serra de Sintra) é referida por muito autores da antiguidade, e mais tarde designada por Cláudio Ptolomeu como “Serra da Lua”, inclui no seu estreito junto ao mar o promontório Magno ou Olisiponense descrito por Plínio e que o geógrafo denomina igualmente por “da Lua”.
Vista do Santuário Romano para o “mons Sacer ” (Serra de Sintra) – Foto de Raul Losada
Plínio refere ser esta a região da Hispânia onde se dividem “as terras, os mares e os céus”, pelo que pela sua específica localização santuário do Sol e da Lua assinalava e sacralizava os limites do Império ocidental.
Aqui as diferentes formas se separavam, o Mundo mediterrâneo e o Mundo oceânico, terminava a terra pisada pelos homens e se iniciava o vasto oceano, onde o próprio sol se escondia, local privilegiado para o contacto entre o humano e o divino.
Aqui se encontra uma intencional forma de ligação entre culto astral e culto imperial, operada num santuário carregado de simbolismo pela sua localização e por certo herdeira de remotas tradições religiosas locais, quer ligadas ao ciclo solar, quer ao culto à Deusa Lunar e salutífera nos Montes sagrados, da Serra da Lua.
Vista do Santuário Romano para o promontório Magno ou Olisiponense (Cabo da Roca) – Foto de Raul Losada
A sua única função seria direccionar as protecções dos astros eternos e garantir assim o bem estar dos imperadores, e do próprio império – A Roma Aeternae.
Assim se justifica não se encontrar na epigrafia do santuário dedicantes particulares ou mesmo magistrados municipais. Apenas altos dignitários Imperiais, que ali representavam os próprios Augustus, e em favor dos quais invocavam os grandes Luminares Celestes.
Fundação, desenvolvimento, apogeu, decadência e abandono
Existem três momentos que podem ter propiciado a fundação deste santuário em meados do séc. II d.C.
Durante o Imperialato de Antoninos Pius, que após a morte da sua mulher, promove a emissão em 141/142 e, posteriormente, em 152 de moedas onde se faz figurar com os atributos de Sol e da Lua, bem como a Faustina, assiste-se à assimilação do casal imperial aos astros do dia e da noite.
Moeda de Faustina, Mulher do Imperador Antoninos Pius, cunhada em Roma em 142 d.C. O reverso apresenta a Lua com sete estrelas.     (RIC 1199)

Durante os últimos anos do Imperialato de Cómodo verifica-se que a ideologia privilegia cada vez mais a astrologia, se bem que não o Sol e a Lua, mas as estrelas.
Foi durante o reinado do Imperador Septímio Severo, época em que se assiste a uma manifesta solarização do culto dos soberanos, que se ergueu no santuário a única ara datável (200 d.C. – 209 d.C.) e de tão importante significado para a compreensão da união simbólica entre a eternidade cósmica e imperial.
É dificil apenas com estes elementos epigráficos datar de forma precisa a fundação do santuário.. O paralelismo entre Antonino Pio e Faustina e Sol e Lua parece apontar para a conjuntura mais adequada, e caso a ara de C. Iulius Celsus, aludir efectivamente a Dacia Superior remete-nos para a mesma ocasião.
Contudo, rigorosamente não se possui dados concertos, sendo a hipótese apontada por Cardim Ribeiro a mais provável, e que propõe a fundação em meados do século II d.C., com Antonino Pio, porventura em 148, ocasião em que Roma celebrava 900 anos de sua fundação.
O desenvolvimento do Santuário terá sido sobretudo durante o reinado de Cómodo (176 d.C.-192 d.C.), atendendo ao afastamento do Imperador Marco Aurélio a este tipo de Cultos, e o seu apogeu deve ter-se atingido sob o imperialato de Septimio Severo. Entra em decadência após Caracala.
O santuário poderá não ter durado uma centúria, sendo abandonado em momento indeterminado no segundo quartel do século III d.C., atendendo a que a Aeternitas Imperii se diluísse na crise política que se acentuou a partir dos Severos.
Principais Inscrições romanas do Santuário
CIL 258 – Consagrada ao Soli et Lunae por Sextus (Ti)gidius Perenis, governador da Lusitânia, em cerca de 185 dC.
CIL 259 – Consagrada ao “Soli aeterno Lunae” por D. Iun(ius) Coelianus, entre 200 dC e 209 dC
SMO/LR/55/26 – Inscrição de C. Iulius C. F. Quir. Celsus – Procurator provinciae Lusitaniae dos finais do séc. II dC. consagrada ao Sol e ao Oceano e que se expõe no  Museu arqueológico de São Miguel de Odrinhas.
Recentemente  – Inscrição dedicada ao Sol e ao Oceano por um Procurador dos Augustos e sua família, ainda em estudo pela equipa do Museu arqueológico de São Miguel de Odrinhas (Sintra).
Linha de tempo
Século I d.C. -Inscrição funerária da época de Augusto, anterior ao próprio santuário, recolhida no local pela equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, durante as escavações realizadas em 2008.
Século II d.C. – Construção do grande santuário dedicado ao Sol e à Lua e ao culto imperial.
Século II d.C. (Cerca de 185 d.C.) -Inscrição romana (CIL 258) – Consagrada ao Soli et Lunae por Sextus (Ti)gidius Perenis, governador da Lusitânia.
Cerca de 200 e 2009 d.C. (CIL 259) – Consagrada ao “Soli aeterno Lunae” por D. Iun(ius) Coelianus.
Século II d.C. (finais) –  inscrição que poderá provir do mesmo santuário, consagrada por Caius Iulius Celsus, «procurator province Lusitaniae».
Século XII – Época islâmica – Vestígios a um ribat (“convento”), tendo sido identificado um conjunto arquitectónico constituído por várias salas, destacando-se uma delas pela presença de um mirhab orientado para Sudeste, virtualmente no sentido de Meca.
Século  XVI (inícios) construção da torre de facho, utilizando parcialmente as estruturas islâmicas como “pedreira”.
1505 – O monumento é relatado pela primeira vez, através da descoberta, por Valentim Fernandes ou Valentim de Morávia, de três aras consagradas a Soli et Lunæ, Soli Æterno Lunæ e Soli Æterno, que as descreve como sendo “três colunas de pedra cortadas em forma de prisma, com uma grande quantidade de letras (…)”
1541 – Francisco de Holanda, é o autor do único testemunho visual do santuário que chegou aos nossos dias, e que o desenhou de forma provavelmente imaginativa. O desenho do santuário encontra-se na sua obra “Da Fábrica que Faleçe ha Çidade de Lysboa
Pormenor do desenho do santuário na obra “Da Fábrica que Faleçe ha Çidade de Lysboa” de Francisco d’Ollanda
1593 – André de Resende estuda e publica o monumento na sua célebre obra “De Antiquitatibus Lusitaniæ
1861 – Emílio Hübner veio pela primeira vez a Portugal, deslocou-se propositadamente a Sintra a fim de observar as inscrições consagradas ao Sol e à Lua, provenientes de um santuário situado sobranceiro à foz do Rio de Colares, e que este autor considerava como as mais importantes de toda a região (Hübner, 1871, pp. 15-16). Porém, não conseguindo localizar as epígrafes, já então desaparecidas, teve de se contentar em reproduzir no volume II do CIL, sob os n.ºs 258 e 259, os respectivos textos e suas variantes apenas com base nas antigas fontes impressas e manuscritas.
Séculos  XX/XXI -O arqueólogo José Cardim Ribeiro publica vários estudos  especializados sobre o Santuário e a sua epigrafia. Destacamos o artigo «Soli Æterno Lunæ. O Santuário» em  Religiões da Lusitânia – Loquuntur Saxa, edição do Museu Nacional de Arqueologia, 2000, (p. 235-239.) e “Soli Aeterno Lvnae”, 1995-2005, Sintria, III-IV.
Actualmente é Director do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas (Sintra) onde se encontra visitável a epigrafia romana referente ao sítio arqueológico.
2008 – A equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas iniciou uma intervenção  junto das estruturas de uma torre de facho de época Moderna.  Confirmou-se a exsitência de um santuário romano monumental.  Nas escavações foi recuperada uma nova inscrição que atesta a importância do local, sendo dedicada ao Sol e ao Oceano por um Procurador dos Augustos e sua família. Para além daquela ara e de uma inscrição funerária da época de Augusto – ou seja, anterior ao próprio santuário – foram recolhidos outros elementos arquitectónicos romanos com alguma monumentalidade, nomeadamente uma imposta moldurada, fragmentos de coluna, de ara e grandes blocos de construção.
O Culto ao longo dos tempos
A serra de Sintra e o cabo da Roca – que assinalam o verdadeiro finis terræ do continente europeu – foram palco, desde tempos pré-históricos, de cultos astrolátricos que se prolongaram durante o período fenício-púnico e a dominação romana.
Estrabão menciona que os povos celtiberos ofereciam sacrifícios a um  “Deus sem nome”, ao qual nas noites de lua cheia dedicavam danças colectivas até ao amanhecer:
“Dizem alguns que os Calaicos não têm nenhum deus, mas os Celtibérios e os seus vizinhos do Norte oferecem sacrifícios a um deus sem nome nas fases da lua cheia, durante a noite, em frente às portas das suas casas, e todas as famílias dançam em coro durante toda a noite” (5, Livro III, Cap. IV, 16).
Este aparente culto astrolátrico dedicado à Lua em tempos pré-históricos parece ter prosseguido ao longo dos séculos.
A Igreja medieval chegou a condenar repetidamente o uso de amuletos em forma de lua  que parece ter atingido grande vigor na Serra de Sintra, cujo Cabo da Roca marca o ponto mais ocidental do continente europeu.
Testemunhos arquitectónicos de época islâmica – O Ribat
Durante a intervenção arqueológica levada a cabo pela equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas foi ainda surpreendentemente identificado um importante conjunto de vestígios de época islâmica, totalmente desconhecidos até então, mas para os quais o topónimo Alconchel (al-concilium) parece apontar. Os testemunhos arquitectónicos de época islâmica correspondem a um ribat (“convento”), tendo sido, até ao momento, identificado um conjunto constituído por várias salas, destacando-se uma delas pela presença de um mirhab orientado para Sudeste, virtualmente no sentido de Meca. A presença de restos de materiais de utilização quotidiana associados à ocupação islâmica é bastante residual. No entanto, foram recolhidos alguns fragmentos de cerâmica com cronologia do século XII  que assinalam provavelmente a fase final de ocupação. De salientar a grande quantidade de conchas, algumas ainda associadas a vestígios de fogueiras, indícios do aproveitamento dos recursos marinhos disponíveis no local. Para além dos edifícios, foi também identificada uma área de necrópole com várias sepulturas, hoje sem qualquer vestígio de espólio arqueológico ou osteológico no seu interior e que, tudo leva a crer, estarão associadas à fase de ocupação islâmica do sítio. Na edificação das estruturas do ribat foram utilizados múltiplos elementos arquitectónicos de época romana, onde se incluem algumas inscrições, que testemunham a existência no local de um importante santuário romano, para a existência do qual já apontavam os relatos de Valentim Fernandes e de Francisco d’Ollanda, no século XVI.
Vestígios de época islâmica – O Ribat, foto de Raul Losada
As construções de período islâmico encontram-se, em muitos casos, bastante destruídas devido à remoção de elementos pétreos de grandes dimensões, dos quais muitas vezes apenas subsiste o negativo da forma conservado na argamassa do alicerce onde assentavam, ou apenas as pedras mais pequenas utilizadas como cunhas dentro das valas das fundações. Porém, alguns desses blocos de grandes dimensões ou de melhor qualidade no talhe ainda se conservavam nas paredes. É provável que a remoção daqueles elementos esteja relacionada com a construção da torre de facho nos inícios do século XVI, quando as estruturas islâmicas foram parcialmente utilizadas como “pedreira”.
Nota Final
Através deste texto onde pretendemos dar a conhecer um local que, do nosso ponto de vista, tem características únicas. Trata-se de uma abordagem que pode conter pequenos erros ou omissões, e vir a sofrer alterações dado que ainda decorrem escavações arqueológicas no Sítio Arqueológico do Alto da Vigia e por tal, ainda  em estudo.  Desejamos também homenagear todos os arqueólogos que por ali passaram ao longo dos séculos, não podendo deixar de fazer uma referência especial ao Dr. José Cardim Ribeiro pelo seu contributo para o conhecimento da Epigrafia e da Arqueologia do concelho de Sintra e de âmbito nacional.
Para José Cardim Ribeiro vai também uma referência especial, pois sem o seu contributo e apoio não poderia ter sido elaborado este texto central da primeira Revista do projecto Portugal Romano, nº0 de Fevereiro de 2012,  tendo sido fundamental toda a bibliografia e textos que nos disponibilizou que por diversas vezes aqui seguimos ou citamos.
 IMPORTANTE: Caso visite o local,  solicita-se o respeito pela sinalização colocada, dado que o Sítio Arqueológico do Alto da Vigia continua a ser intervencionado pela equipa do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas pelo que não deve circular na área arqueológica.
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de  Soli aeterno Lunae, Sintria, 596 III-IV (1995-2005) da autoria do Dr. José Cardim Ribeiro

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