sábado, 23 de maio de 2015

Peregrinação, Fernão Mendes Pinto


Do site ACHALE, retiramos um artigo sobre o livro Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto que, num dia do ano de 1523,  "desembarcou, chicoteado e nu, na praia alentejana de Melides." http://achale.pt/artigo.php?nome=Patrimonio&id=31




Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho entre 1509 e 1511, de família pobre, tendo em 1521 ido para Lisboa servir uma fidalga.

Ano e meio depois de estar ao serviço dessa dama, em 1523, algo terá acontecido que o obrigou a abandonar apressadamente de casa para salvar a vida, fugindo para o Cais da Pedra e aí embarcando se numa nau que ia com um carregamento de cavalos para Setúbal.

A nau onde Fernão Mendes Pinto embarcou foi assaltada perto de Sesimbra por piratas franceses, tendo os seus ocupantes sido desembarcados, chicoteados e nus, na praia alentejana de Melides. Fernão Mendes Pinto conseguiu depois chegar a Setúbal, onde entrou ao serviço do fidalgo Francisco de Faria.

Em 1539 embarca para o Oriente, onde terá vivido uma vida aventurosa, que retrata a partir de 1569 no livro Peregrinação, que apenas seria concluído em 1578.

Peregrinação viria a ser publicada apenas em 1614, quase trinta anos após a morte do autor, ocorrida em 1583 no Pragal, Almada. O seu título integral e em português clássico:


"Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto em que da conta de muytas e muyto estranhas cousas que vio & ouvio no reyno da China, no da Tartaria, no de Sornau, que vulgarmente se chama de Sião, no de Calaminhan, no do Pegù, no de Martauão, & em outros muytos reynos & senhorios das partes Orientais, de que nestas nossas do Occidente ha muyto pouca ou nenhua noticia. E também da conta de muytos casos particulares que acontecerão assi a elle como a outras muytas pessoas. E no fim della trata brevemente de alguas cousas, & da morte do Santo Padre Francisco Xavier, unica luz & resplandor daquellas partes do Oriente, & reitor nellas universal da Companhia de Iesus."

 
A Peregrinação é o livro de viagens da literatura portuguesa mais traduzido e famoso, tratando essencialmente da chegada e da estadia do autor no Oriente. Apresenta-nos o relato das expedições dos descobridores e conquistadores portugueses, sendo que "a imagem dos navegadores portugueses que perpassa nesta obra é sobretudo picaresca, assumindo-se como um anti-herói, capaz das piores façanhas para lograr os seus objectivos, geralmente pilhar e roubar as populações nativas para enriquecer e regressar à pátria. De tal modo a obra contesta a actuação dos portugueses que, durante muito tempo, foi considerada uma obra mentirosa, pouco digna de atenção e pouco credível" (in Wikipédia).


O grupo de teatro A Barraca encenaria em 1981 uma peça de teatro inspirada na obra de Fernão Mendes Pinto, que designou exactamente por Fernão Mentes? http://www.abarraca.com/index.php?option=com_barraca&view=ecos&Itemid=7#

A versão e encenação foram de Hélder Costa (http://achale.pt/artigo.phpome=Personalidades&id=22) e a música de José Afonso, Fausto e Orlando Costa; no elenco contavam-se nomes como Maria do Céu Guerra, António Cara D’Anjo, Orlando Costa, Santos Manuel.

Em 2014, na passagem dos 400 anos da Peregrinação, esta peça viria a ser novamente encenada pela Barraca http://www.abarraca.com/index.php?option=com_barraca&view=ecos&Itemid=7#


Peregrinação foi também tema para uma das obras-primas da música popular portuguesa: o músico Fausto Bordalo Dias edita em 1982 o seu sexto álbum, designado Por Este Rio Acima, onde participam também Pedro Caldeira Cabral e Júlio Pereira.

O disco é o primeiro da trilogia temática Lusitana Diáspora, que inclui também os álbuns Crónicas da Terra Ardente (1994) e Em Busca das Montanhas Azuis (2011), sendo considerado pela crítica como um dos álbuns mais marcantes da música popular portuguesa das últimas décadas.



Referências


PINTO, Fernão Mendes – Peregrinação. Lisboa: Europa-América, 3.ª edição, 1995. Depósito legal n.º 88535/95.

Peregrinação. Versão integral digital, cópia pública - http://purl.pt/82/3/. Consulta em 2015-01-10.

Peregrinação (livro). Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Peregrina%C3%A7%C3%A3o_(livro). Consulta em 2015-01-10.

Fernão Mendes Pinto. Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_Mendes_Pinto. Consulta em 2015-01-10.

A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Ensina - RTP - http://ensina.rtp.pt/artigo/a-peregrinacao/. Consulta em 2015-01-10.

A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Blogue História de Portugal - http://historia-portugal.blogspot.pt/2011/06/peregrinacao-de-fernao-mendes-pinto.html. Consulta em 2015-01-10.

PACHECO, Nuno - O Regresso de Fernão Mendes Pinto. Jornal PÚBLICO, 22 de Junho de 2014 – http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-regresso--de-fernao-mendes-pinto-1659789. Consulta em 2015-01-10.

Por este rio acima. Wikipédia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Por_Este_Rio_Acima. Consulta em 2015-01-10.
Sítio do Teatro A Barraca - http://www.abarraca.com/. Consulta em 2015-01-10.



"Peregrinação"
 


 
 

EM PÚBLICO
O regresso de Fernão Mendes Pinto
 
 

 

Por Nuno Pacheco

Um dos grupos históricos do meio teatral português, A Barraca, repôs esta semana uma peça, também ela histórica, do seu repertório: Fernão Mentes? Já lá vamos ao tempo e ao lugar, mas antes convém dizer que esta reposição vem bem a propósito: porque se celebram os 800 anos da Língua Portuguesa (e como Fernão Mendes Pinto navegou nela!) e porque se realizam os exames nacionais, onde idioma e história se misturam nas mesas das provas.

Seja como for, quando A Barraca estreou tal peça, versão de Hélder Costa sobre a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (e isso foi no FITEI, a 18 de Novembro de 1981), andava o grupo já noutras guerras (sina eterna do teatro) para preservar as suas instalações (nessa altura ainda na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, com ameaça de despejo pelo proprietário, o Banco Nacional Ultramarino, para posterior demolição do prédio) e pela sua subsistência. Passaram-se nada menos do que 33 anos, a idade de Cristo, e A Barraca sobreviveu. Com as dificuldades que se conhecem, de que outros também se queixam, mas com a força suficiente para manter um cartaz vivo nas instalações do antigo cinema Cinearte, em Santos — isto embora a reposição de Fernão Mentes? se dê noutra sala, a do Teatro da Trindade (ao Chiado), onde ainda pode ser vista de quarta a sábado (21h30) ou no domingo (18h), mas só até dia 29.

Curiosamente, Fernão Mentes? esteve na origem de dois discos fundamentais na música portuguesa: Por Este Rio Acima, de Fausto Bordalo Dias (editado em 1982 e primeiro tomo de uma fantástica trilogia que seria completada com Crónicas da Terra Ardente, 1994; e Em Busca das Montanhas Azuis, 2011), e Como Se Fora Seu Filho, de José Afonso (1983). Isto porque ambos compuseram canções para a peça, cinco cada um, ressaltando de entre as escritas por Fausto A voar por cima das águas ou Quando às vezes ponho diante dos olhos, e sendo as de José Afonso Utopia, A nau de António Faria, Canção da paciência, Canção do medo e Verdade e mentira, todas elas incluídas no disco atrás referido e indicando essa origem.

Folheando o programa de há 33 anos, diz-se logo de início, num texto escrito pelo autor e encenador, Helder Costa, que "Fernão Mendes Pinto foi um dos milhares de portugueses que arrostou contra ventos e marés seguindo a rota que o levaria ao El Dorado. Felizmente para todos nós, acabou por ser o Charlot da Quimera de Oiro. E deixou disso testemunho farto e eloquente. As peripécias por que passou esse ‘pobre’ português têm pouco de grandiloquente e de guerreiro ou santo exemplar. Mas têm tudo de verdade, têm tudo da vida. Os medos, as riquezas súbitas, a astúcia, a miséria, a desgraça, a audácia, o ‘safar a pele’, a inteligência, a solidariedade, e, acima de tudo, um final de vida tranquilo que permite olhar para trás sem remorsos nem arrependimentos e transforma Fernão Mendes Pinto no arquétipo do homem do povo da grande gesta dos Descobrimentos." Um "espectáculo exaustivo e vivo sobre as civilizações e culturas do século XVI, eis o que se quis fazer", concluía Helder Costa.

Na página seguinte, Fausto (que já abordara musicalmente a Peregrinação num disco anterior, História de Viageiros, de 1979) falava da música, dizendo que "a peça e as canções procuram (…) dimensionar o homem como elemento transformador do mundo e da vida e, ao mesmo tempo, transformado pelo movimento da história; apresentá-lo na sua mesquinhez e na sua grandiosidade humana". A terminar, falava da dimensão conferida por Fernão Mendes Pinto à odisseia dos descobrimentos: "É a exacta coragem da percepção do medo, sendo verdade o inverso. É também a ausência de sentimentos rácicos ou de subestimação e desprezo pelas outras culturas e civilizações. Servindo-se disto, a peça é para mim uma terapêutica segura para quem ainda sofra de psicose ou do complexo colonial." No final, A Barraca lembrava que durante a vida de Fernão Mendes Pinto ocorreram factos de relevo para a história (e não só a nossa). Como o nascimento de Camões ou a fundação do Rio de Janeiro. Bom pretexto para conferir, hoje, se ele "mente" ou não.

In jornal PÚBLICO, 22 de Junho de 2014 –
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-regresso--de-fernao-mendes-pinto-1659789

 

 
Por Este Rio Acima
Fausto

Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima

Por este rio acima
Os barcos vão pintados
De muitas pinturas
Descrevem varandas
E os cabelos de Inês
Desenham memórias
Ao longo da água
Bosques enfeitiçados
Soutos laranjeiras
Campinas de trigo
Amores repartidos
Afagam as dores
Quando são sentidos
Monstros adormecidos
Na esfera do fogo
Como nasce a paz
Por este rio acima

Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também meu bem

Por este rio acima isto que é de uns
Também é de outros
Não é mais nem menos
Nascidos foram todos
Do suor da fêmea
Do calor do macho
Aquilo que uns tratam
Não hão-de tratar
Outros de outra coisa
Pois o que vende o fresco
Não vende o salgado
Nem também o seco
Na terra em harmonia
Perfeita e suave das margens do rio
Por este rio acima

Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também meu bem

Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
In "letras.com" – http://letras.com/fausto/486917/

 
Galeria de fotos
 
 
Primeira página da primeira edição de "Peregrinação" - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Peregrina%C3%A7aum_00_rosto-5v.djvu

Selos comemorativos dos "400 anos da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto" - http://www.coisas.com/1980---400-ANOS-DA-PEREGRINACAO-DE-FERNAO-MENDES-PINTO,name,208655077,auction_id,auction_details


Capa: PINTO, Fernão Mendes – Peregrinação. Lisboa: Europa-América, 3.ª edição, 1995. Depósito legal n.º 88535/95.

 Cartaz da peça de teatro de A Barraca Fernão Mentes? – 1981
http://www.abarraca.com/index.php?option=com_barraca&view=ecos&Itemid=7#
 
Cartaz da peça de teatro de A Barraca Fernão Mentes? – 2014
http://www.abarraca.com/index.php?option=com_barraca&view=ecos&Itemid=7#
 


Capa do álbum Por Este Rio Acima, 1982

 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

25 de abril de 1974 - cartazes

Alguns cartazes alusivos ao 25 de abril de 1974, da época :

 Sérgio Guimarães - 1974
240 mm x 340 mm
 
Vespeira -  S/ data
290 mm x 412 mm
 
João Abel Manta - 1975
330 mm x 330 mm

Vespeira -  S/ data
340 mm x 480 mm 

João Abel Manta - S/ data
355 mm x 515 mm 

João Abel Manta - S/ data
450 mm x 640 mm
 
E dois calendários, o primeiro de parede e o segundo de bolso:
 


 335 mm x 483 mm

João Abel Manta