segunda-feira, 30 de agosto de 2010

GAC – Grupo de Acção Cultural Vozes na Luta

Foram editados no passado mês de Maio os quatro discos-chave do GAC – Grupo de Acção Cultural Vozes na Luta.

Como se recordarão os “mais antigos”, o GAC foi uma (como se diria hoje) banda, formada no final de Abril de 1974, que juntou na sua fase inicial músicos como Zeca Afonso, Fausto, José Jorge Letria, Manuel Alegre e Sérgio Godinho.

Na altura a designação era CAC – Colectivo de Acção Cultural, tendo ainda em 1974 sido alterado o seu nome para GAC, na sequência do abandono do grupo por parte dos seus músicos pelo facto do Grupo se ter associado à UDP.

A documentação sobre o GAC, nomeadamente a patente na Internet, é vasta; transcrevemos de seguida parte de um texto de Luís Leal Miranda (http://www.ionline.pt/conteudo/58036-gac-quando-cantiga-era-uma-arma-eles-formaram-um-exercito) para “abrir o apetite”:


Quando o Grupo de Acção Cultural terminou a sua carreira, no
início de 1979, tinha editado quatro discos, vários singles e um EP de marchas
populares com letras adaptadas aos temas da esquerda revolucionária. Havia ainda
uma carrinha em que viajavam pelo país e uma sede com uma despensa cheia de LP,
sobras de cinco anos de canções. A carrinha foi vendida para pagar o passivo do
grupo (quatrocentos contos), a sede no Bairro Alto converteu-se num restaurante
e centenas de discos foram abandonados num descampado nos arredores de Lisboa.

(…)

De pé, ó vítimas da fome É já como Grupo de Acção Cultural
que a banda percorre o país a tocar em fábricas, piquetes de greve, empresas em
autogestão, comissões de moradores e comícios. Sempre à borla. "Cheguei a ficar
sem comer depois de um concerto por não ter dinheiro", recorda Carlos Guerreiro,
membro do GAC de 74 a 79, e fundador, em 1991, dos Gaiteiros de Lisboa.

Guerreiro esteve na gravação do primeiro disco - como corista do
Incrível Almadense - e continuou no grupo até à sua dissolução. "Entrei como
anónimo e saí como músico do GAC. Foi a minha escola", recorda o músico, que era
apenas um grão de areia num mar de gente. Nos seus tempos áureos, o GAC chegou a
ter cerca de 80 membros. "Talvez mais", recorda Carlos, "Hoje em dia há pessoas
que dizem que fizeram parte do GAC e não os conheço nem nunca os vi." Durante o
PREC (Processo Revolucionário em Curso) era possível assistir a um concerto do
GAC às 21h00 no Funchal, às 22h00 em Viseu e às 22h30 em Lisboa. O fenómeno não
se deve ao teletransporte, mas à multiplicação dos cantores-militantes.
"Tínhamos núcleos no Norte, Centro e Sul; houve alturas em que tocávamos todos
ao mesmo tempo", recorda Guerreiro. Mas havia também um fenómeno de imitação que
fazia com que em várias colectividades surgissem os mini-GAC. Era fácil e
barato. Senão vejamos.

As exigências para tocar ao vivo eram poucas: um
palco e uma plateia chegavam - às vezes sobravam. "Cheguei a dar um concerto na
Madeira em que era só eu e uma guitarra", recorda Carlos. A formação-tipo do GAC
era composta por um guitarrista e um coro - daí a portabilidade do grupo.

Em estúdio era tudo diferente. A maioria dos membros do GAC (as tais
dezenas) não cabiam nos locais de gravação e as sessões acabavam por ficar a
cargo de um grupo reduzido de músicos profissionais convidados - mas nem sempre
pagos. O processo de lançamento do disco era todo ele autónomo (independente, na
linguagem de agora), sendo as rodelas de vinil vendidas ao preço mais baixo
possível. Foi o que aconteceu com "A Cantiga É Uma Arma", primeiro disco lançado
em 1975.

Cassetes para os camaradas Avizinhava-se o congresso da UDP e
as canções do GAC estavam na ponta da língua dos portugueses. Com concertos
esgotados mas sem um disco para vender, havia que transformar a fita onde
estavam as canções de "A Cantiga é uma Arma" em algo que se pudesse vender
depois do comício. "Fomos à Sasseti nas Amoreiras, uma editora que estava em
autogestão e era solidária com a UDP. Ocupámos aquilo e estivemos 48 horas sem
parar a fazer cassetes a partir do master para vender naquele dia", contou
Carlos Guerreiro. Dos 5 mil exemplares produzidos, foram vendidos todos, um por
um, nesse dia. Um número que até hoje deve ser recorde de vendas nacional.

Canções ou manifestações Carlos refere-se ao GAC como "um partido
político cultural" e a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX".
Descreve as canções do grupo como "propaganda ideológica". A banda esteve desde
cedo associada à UDP e a mensagem política tinha tanto ou mais importância que a
música. Ao voltar a ouvir estes discos - que estão de volta aos escaparates
desde o dia 1 de Maio, exactamente 36 anos depois da sua fundação -, os músicos
não podem deixar de sentir alguma nostalgia e de sublinhar a ingenuidade desses
tempos: "Hoje, musicalmente não é coisa que me erice os epitélios, mas reconheço
o seu valor. Tem coisas que só dão vontade de rir, como palavras de ordem
marteladas para dentro de canções populares que não têm nem deviam ter carga
ideológica nenhuma", sublinha Guerreiro.

(…)

Mas este post pretende principalmente chamar a atenção para a reedição dos álbuns do GAC, cujas capas e contracapas apresentamos de seguida:














Os álbuns vão certamente esgotar rapidamente, pelo que recomendamos vivamente que “abra os cordões à bolsa”.

Sugerimos ainda que compre os 4 CD’s com “menor pegada ecológica”, bem perto de si: na Taverna dos Trovadores (http://tavernadostrovadores.blogspot.com), em S. Pedro de Sintra (no topo superior do largo da feira), da qual o seu gestor foi exactamente do GAC – o Fernando Pereira, da “Real Companhia”.

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