sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Granja do Marquês nas revoltas contra o salazarismo. Palma Inácio

A propósito do último número da revista Visão História (n.º 11, Fevereiro 2011), dedicada às “Conspirações contra o regime”, paramos um pouco no dia 10 de Abril de 1947, na designada “Abrilada”.

Tratou-se de mais uma conspiração militar contra o salazarismo, na qual intervieram também civis, designadamente João Soares (pai de Mário Soares) e Palma Inácio.

A história desta revolta é contada numa nota cronológica (pág. 18) e nos artigos “O milionário e o golpe” (pág. 32 e 33) e “O aventureiro da liberdade perdida” (pág. 74-80), este último apresentando um excelente resumo biográfico do revolucionário Palma Inácio.

Mas o aspecto que nos interessou sobremaneira foi que um dos palcos desse golpe se passou aqui perto de nós, na Granja do Marquês, também conhecida por Base Aérea n.º 1.

Segundo a Visão, “os operacionais Palma Inácio (então trabalhador da Base Aérea nº 1) e Gabriel Gomes ainda sabotaram 28 aviões em Sintra, incluindo o Dakota do ministro Santo Costa (…)”. Santos Costa era o então ministro da Guerra.

Mas para conhecermos melhor a história da passagem de Palma Inácio e da “Abrilada” na Granja do Marquês socorremo-nos agora de excertos de um texto de Eduardo Mayone Dias (eduardomdias@sbcglobal.net) publicado no jornal The Portuguese Times, intitulado “Palma Inácio, revolucionário e aventureiro”:


(…)
Hermínio da Palma Inácio nasceu a 29 de Janeiro de 1922 em Ferragudo, então uma pequena aldeia de pescadores da costa algarvia, filho de um humilde operário ferroviário de escassas letras mas de firmes convicções sindicalistas.

Terminado em Silves o curso secundário industrial, alista-se aos dezoito anos na Aeronáutica Militar e é destinado à Base Aérea nº1, na Granja do Marquês, Sintra. Aí completa o curso de mecânico e atinge o posto de sargento. Consegue também o brevet de piloto civil. Durante o serviço militar estabelece relações com alguns oficiais desafectos ao regime salazarista e, curiosamente, também com um nesse tempo fervoroso apoiante do Estado Novo, o Capitão Humberto Delgado.(…)

A primeira operação

Palma Inácio envolve-se entretanto em actividades antigovernamentais e a 10 de Abril de 1947 é um dos participantes na "abrilada", um plano de golpe de estado pela Junta Militar de Libertação Nacional, dirigido pelo Almirante Mendes Cabeçadas com a colaboração de vários oficiais superiores, entre eles o General Marques Godinho. A insurreição iria iniciar-se na região de Tomar e determinaram-se precauções para neutralizar unidades militares que se pudessem opor ao movimento. Uma destas precauções consistia em imobilizar os recursos da Base Aérea da Granja do Marquês, onde Palma Inácio havia prestado serviço.

Bom conhecedor do terreno, encaminha-se pois para aí na companhia de outro mecânico, Gabriel Gomes, e entre os dois cortam os cabos de comando de 28 caças e de um Dakota utilizado pelo Ministro da Guerra, Santos Costa, para as suas deslocações oficiais.

A conjura é cancelada à última hora e a polícia lança uma vaga de prisões. Na iminência de ser detido, o jovem revolucionário refugia-se numa casa de Lisboa e depois numa quinta em Odivelas, onde aparenta ser estudante em férias.
(…)


Palma Inácio foi o mais destacado militante da LUAR-Liga de União e Acção Revolucionária, organização revolucionária armada nascida em 1967 e extinta alguns anos após o 25 de Abril de 74; faleceu em 2009.


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