No domingo, 6 de julho de 2014, pelas 11 horas, Otelo Saraiva de Carvalho vai estar no Quartel da Pontinha para contar como foi o golpe do 25 de abril. De como lá entrou às 22 horas de 24 de abril de 1974 e foi coordenando o que definira e enviara nos dias anteriores para os seus camaradas. Naquela noite, num barracão pré-fabricado, no Regimento de Engenharia n.º 1, na periferia de Lisboa, janelas tapadas com grossos cobertores, clandestinos, estavam o major Otelo Saraiva de Carvalho, o capitão-tenente Vítor Crespo, o major Sanches Osório, o tenente-coronel Garcia dos Santos e o tenente-coronel Fisher Lopes Pires, com o apoio do major José Maria Azevedo, e com o capitão Luís Macedo, oficial da unidade, a garantir a segurança.
Uma bela oportunidade, no domingo, para levarmos os nossos filhos, os nossos amigos e familiares, a ouvir, contada na primeira pessoa, essa história fantástica do 25 de abril. Para ir até ao Quartel da Pontinha, o mais prático será apanhar o metro para a estação da Pontinha. Se for de carro, estacione no parque de estacionamento da estação de metro da Pontinha; para lá chegar, talvez ir até ao fim da Avenida dos Lusíadas, que vai do Hospital de Santa Maria até ao Centro Comercial Colombo e Hospital da Luz, virar à direita, e depois, no segundo grande cruzamento, virar à esquerda, na Estrada Correia; lá ao fundo, fica o parque de estacionamento.
Mas a oportunidade é única, também, no sábado, 5 de julho de 2014, a partir das 15 horas. Os capitães, agora septuagenários, mantêm-se secos, perfilados, dir-se-ia prontos a repetir aquela madrugada libertadora. Na Rua Sampaio Pina, n.º 26, pouco abaixo da Penitenciária, a poente do Parque Eduardo VII, Costa Neves explicará, no seu modo simples, como, depois de verificar a zona, o comando de 8 militares, trajando à civil, tomou o Rádio Clube Português:
— Nunca lá tinha entrado, mas tínhamos obtido um croquis das instalações. Às 03:12 da manhã, cheguei à porta e dei as boas noites ao Alcino Leal, o corpulento porteiro do RCP.
Disse que pretendia falar com um diretor, de que conhecia o nome. Ele disse que o diretor não estava e entretanto observei se tudo estava calmo por detrás dele, não fosse haver surpresas… Tudo parecia pacífico, e entrámos e tomámos aquilo. Éramos 8 oficiais, armados de pistolas.
O agora general Costa Neves é feliz. Sereno, sabe que foi mais uma peça numa maquinaria que funcionou quase perfeitamente. Pela sua parte, lamenta apenas que alguns dos "comandos" daquela noite já não sejam vivos:
— Eram mais novos que eu… Mas a vida é assim.
Pouco depois, pelas 16 horas de sábado, o encontro é na Rua do Quelhas, n.º 2, na es-quina sul do quarteirão do Instituto Superior de Economia, perto de Santos, onde era a 25 de abril de 1974 a Emissora Nacional. E depois, deslocação até à Rua da Misericórdia, perto do Largo de Camões, e onde se situava a sede da Censura, e a seguir ao Quartel do Carmo, onde o regime se rendeu e Marcelo entregou a Spínola as rédeas do poder.
Para falar, surgirão Luís Pimentel, Fernando Matos Silva, Isabel do Carmo, Mário Tomé, Carlos Pratas, José Fontão. Se todos conseguirem estar presentes, vai ser de peso!
E deslocação até onde era então a sede da PIDE. Em junho passado já foi assim. Sousa e Castro esperava por Raquel Varela, historiadora, e coordenadora científica desta iniciativa:
— Raquel! Já cá estou há meia hora…
— Pois é. Demorámo-nos um bocado no Quartel do Carmo. Pode começar, Sousa e Castro.
Fala-se da PIDE, e a conversa aquece.
— O Jaime Neves tinha por missão tomar aqui a sede da PIDE, de surpresa, mas ele opôs-se a que a missão fosse executada; não tinha forças suficientes. E quando os fuzileiros aqui apareceram, de manhã, o Alpoim Calvão, que estava aqui dentro, convenceu-os a desistir do objetivo. Depois, quando os populares avançaram, os PIDEs mataram 4 . Foram os únicos mortos, naquele dia.
— Havia um acordo que nunca foi claro entre Spínola e elementos ligados à PIDE. A PIDE não gostava do Marcelo…
Mário Tomé zurze nos militares que deixaram que as coisas voltassem para trás. Do outro lado do grupo, Sousa e Castro interrompe-o:
— Nós éramos uns jovens de 20/30 anos, e fizemos o que havia a fazer. Chega de bater em nós. Não temos culpa que estes garotelhos tenham posto isto de pantanas!
Deliciada, rosto impassível, sentada na borda do passeio, Raquel Varela deixa-os discutir. Um arrumador de carros, entretanto, tinha abandonado a sua atividade e assistia:
— Quem são eles?
— São Capitães de Abril. O Tomé, o Sousa e Castro. Aqueles são o Fontão e o Matos Silva. Lá ao fundo, aquele é o Costa Andrade.
— A sério? Porreiro. Pensei que fosse malta ali de cima, do São Luiz. Ainda estão bons…
Fontes: http://www.instituto-camoes.pt/revista/cronologia.htm
http://www.25abril.org/index.php?content=1&hora=1
Carlos Galrão
29.jun.2014
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