sábado, 6 de junho de 2015

Eleições parlamentares de 2015 no Reino Unido



O sistema de eleições por círculos uninominais a uma volta privilegia os grandes partidos, pelo que a alteração de distribuição da votação parlamentar no Reino Unido, de 2010 para 2015:
                                                2010      2015
Conservadores                36%       37%
Trabalhistas                   29%       30%
Liberais                         23%        8%
provocou a perda de 39 deputados dos Liberais para:
            Conservadores           + 27 deputados
            Trabalhistas               + 12 deputados

Só por si, este acontecimento bastaria para dar maioria absoluta aos Conservadores, que ficaram em 2010 a 20 deputados da maioria e que agora obtiveram a maioria sem necessidade de coligação com os Liberais.
Mas este acontecimento geral cruzou-se ainda com um acontecimento regional. Na Escócia, a votação do SNP (Partido Nacional da Escócia) subiu 20% a 40% nos diversos círculos eleitorais (ganhou mais 50 deputados) enquanto a votação dos Trabalhistas desceu entre 15 % a 30% (perdeu 40 deputados) e a votação dos Liberais desceu entre 5% a 20% (perdeu 10 deputados). Como resultado, os 59 deputados dos círculos eleitorais da Escócia ficaram assim distribuídos:
                SNP                   56 deputados (+ 50)
                Trabalhistas         1 deputado  (- 40)
                Liberais               1 deputado  (- 10)
                Conservadores     1 deputado  (-----)
devido também ao efeito já referido da eleição por círculos uninominais a uma volta.

Assim, nas contas globais:
- os Conservadores passaram de 306 para 331 deputados (a maioria são 326 deputados dos 650 totais)
-os Trabalhistas ganharam 12 deputados aos Liberais e 2 aos Conservadores mas perderam 40 para o SNP, passando de 258 para 232 deputados no Parlamento.

Sobre o aparente desvio na representatividade eleitoral:
                                                         Perct     Eleit
                       Conservadores          36,9%    331
                       Trabalhistas              30,4%    232
                       UKIP                         12,6%       1
                      Liberais                       7,9%       8
                       SNP                             4,7%     56
                      Verdes                         3,8%       1
                       DUP                             0,6%      8
                        Plaid Cymru                 0,6%      3
                       Sinn Féin                      0,6%      4

a questão é que no parlamento do Reino Unido representa-se populações e não ideologias; tal como noutras assembleias com mais de 200 anos de existência, como a de França e a dos Estados Unidos. Nestes parlamentos são eleitos representantes locais e não representantes de qualquer ideologia ou programa ideológico. É por isso que nestas eleições foram eleitos 56 representantes do SNP, que venceram em 56 círculos eleitorais, embora este partido a nível global tenha obtido apenas 4,7% dos votos, pois é um partido regional. Ao contrário, o UKIP, um partido com implantação em todo o Reino Unido, e com uma votação global de 12,6%, obteve a vitória apenas em 1 círculo eleitoral e tem apenas 1 representante no Parlamento.
Este sistema eleitoral focaliza a representatividade em círculos locais, uninominais, obrigando a política a ser local e personalizada. Os candidatos estão sujeitos a um elevado escrutínio dos seus eleitores, tanto antes da eleição como depois de serem eleitos. Imagine-se os círculos eleitorais do Algueirão e de Mem Martins, cada um elegendo um deputado, apenas!
Neste sistema eleitoral, não existem deputados fantasma, que só as máquinas partidárias conhecem, e que rodam sem freio servindo interesses vários mas raramente os dos eleitos.
No Reino Unido, os deputados representam os eleitores de um círculo eleitoral determinado, e não ideologias.


                Carlos Galrão

                03-06-2015

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