quarta-feira, 9 de julho de 2014

O Algueirão no 16 de Março de 1974

No passado domingo, dia 5, no quartel da Pontinha, em Lisboa, Otelo Saraiva de Carvalho referiu o Algueirão como local de uma importante reunião do Movimento das Forças Armadas preparatória  do 16 de Março de 1974.

Essa reunião terá ocorrido no dia 12 de Março de 1974 numa vivenda no Algueirão, propriedade do então major Casanova Ferreira, que viria a ser preso no dia 16 de Março na sequência do falhanço do golpe.
Major Casanova Ferreira
Eis algumas descrições dessa reunião:
 

 (...) "Entretanto regressam da Guiné o Manuel Monge e o Casanova Ferreira, que tinha sido instrutor da maior parte dos actuais capitães do Movimento.
Otelo põe-os a par da proposta de Spínola. Casanova responde logo:
"Nem pensar nisso. O nosso general está louco. Não é ele que nos vai dizer o que fazer. Consegues marcar uma reunião com os militares das escolas práticas, que são as unidades mais fortes? Eu tenho uma vivenda em Algueirão, marca a reunião para lá."
Otelo convocou tenentes e capitães das escolas práticas e a comissão executiva do Movimento.
"É pá, vamos fazer uma acção, rapidamente, para evitar a Brigada do Reumático", diz Casanova na reunião. E todos aplaudem. À tarde, numa outra reunião mais restrita, Casanova apresenta uma Ordem de Operações, que traz esboçada num papelinho: "A acção começa com o lançamento, por via aérea, de uma bomba de 250 quilos na Assembleia Nacional", diz ele.
"É pá, ó Casanova, aí é que estamos tramados", responde Otelo. "A Força Aérea não está connosco, e nem sei se há em paiol bombas de 250 quilos."
"É pá, mas isso é que era giro, rebentar com aquilo tudo. Mas não faz mal. Aqui está a ordem de operações." E começa a distribuir papelinhos com as várias funções. A Escola Prática de Cavalaria manda uma coluna para Lisboa e fica na rotunda da Encarnação à espera de ordens. Vem uma bateria de Cavalaria da Escola Prática de Vendas Novas. Uma coluna motorizada com morteiros de Mafra.
Otelo tenta objectar: "É pá, ó Casanova, mas isso não é uma operação militar com pés e cabeça..."
"Isto cai logo pá. Isto está podre."
"Olha que é capaz de não ser bem assim. Mas está bem. O que determinas que eu faça?"
"Vais amanhã de manhã à Escola Prática de Cavalaria, que é a mais renitente, e convences a malta a sair para a rua, na noite de 13 para 14. (...)" - Jornal Público, entrevista com Otelo em 24/04/2009 (www.publico.pt/temas/jornal/otelo-304091)
 

(...) "Otelo conta das reuniões em casa de Casanova Ferreira, primeiro no Algueirão, no dia 12 de Março, com tenentes e oficiais das Escolas Práticas e outros do RI5-Caldas e do RALIS-Lisboa. Depois  e já à tarde na casa do Casanova mas de Lisboa .... "alinhámos num folhinha de papel A5, uma pequena Ordem de Operações(!) em que intervinham quase só as Escolas Práticas .. Não havia transmissões, não havia nada. "
Então, continua dizendo Otelo: na sequência dessa reunião arrancou, no dias seguinte, para Santarém ... Teve uma reunião em Casa do Capitão Bernardo. Este interrogou? "A ordem vem assinada pelo general Spínola?” Perante uma resposta negativa, respondeu: “Ah então nós, Escola Prática, não entramos, fica já ponto assente.” (Salgueiro Maia estava de Serviço no aquartelamento)." - Manuel Duran Clemente EM 18/03/2014 no blogue O Mirante Al Mirante (WWW.omirantealmirante2.blogspot.com/.../ainda-o-16-de-marco-contado-por-...)
 

(...) Dois dias antes da «brigada do reumático» [manifestação de apoio dos generais à política de Marcello Caetano, a 14 de Março de 1974, em desagravo pelas críticas feitas no livro de Spínola], eu tinha conseguido, a pedido do Casanova, reunir elementos subalternos e capitães das unidades mais fortes do MFA, na casa dele, no Algueirão. Ele queria motivá-los a participarem num acção antes que a «brigada do reumático» provocasse a demissão do Spínola. O Casanova expôs sumariamente a necessidade de entrar em acção e todos queriam participar: «Sim senhor, OK da parte da Escola Prática tal», «Eu arranjo isto e aquilo…». Era uma quarta-feira, e dado o ânimo e a vontade de participação dos jovens tenentes das escolas práticas, o Casanova concluiu: «Bom, então hoje à tarde na minha casa em Lisboa». - Jornal Le Monde Diplomatique, entrevista com Otelo em 23/04/2007 - (www.pt.mondediplo.com/spip.php?article12)

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